MANIFESTO

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Tá na hora de fazer política com encantamento

Seja em Olinda ou em qualquer parte do Brasil, as mulheres negras são protagonistas de importantes conquistas para o povo ao longo da história. Embora os espaços de poder neguem essa relevante atuação, as mulheres negras sempre lutaram por cidadania e dignidade para os mais pobres. Eu, Mãe Beth de Oxum, com 40 anos de ativismo cultural, faço parte desse quilombo de resistência. E, atendendo ao chamado de muitas companheiras e companheiros de luta, me coloco como pré-candidata a vereadora de Olinda, cidade que amo e que segue marcada por um processo de agressiva colonização, que se reflete até os dias atuais. Tá na hora de mudar o modo de fazer política!

Óh linda!, terra indígena, tomada de assalto por colonizadores e que virou capital da Capitania Hereditária de Pernambuco assumindo papel fundamental na economia sob o comando da oligarquia europeia, que tinha protagonismo natural nas discussões políticas daquele tempo. A Câmara de Vereadores de Olinda tem, desde a sua origem, forte influência das classes dominantes, que receberam de presente suas terras e, por receio de perderem privilégios, criaram este espaço de deliberação, que foi responsável por promover investidas contra os povos originários, buscando o domínio da República de Palmares e dos territórios indígenas que, na época, estavam localizadas dentro da capitania. Tá na hora de devolver o que é do povo, para o povo!

A despeito de todas as formas de opressão impostas às camadas mais periféricas, o povo de Olinda se forjou guerreiro, revolucionário e culturalmente forte, que se orgulha de ser olindense e viver banhado pelo mar e suas tantas colinas, que vão além da cidade alta e se fazem belas e imponentes, abrigando trabalhadoras e trabalhadores de todas as cores e credos. Apesar da importância desse mesmo povo para as lutas e revoluções que garantiram a autonomia e independência da cidade, a elite nunca permitiu que as classes populares se beneficiassem de suas conquistas, e as mantiveram longe dos castelos da nobreza e também das decisões. Tá na hora de ouvir a nossa gente!

Desde tempos imemoriais, essa é a forma como a política vem sendo construída, com autoritarismo e de costas para as pessoas que desejam um modelo de governo participativo, coletivo e popular. Entretanto, quem realiza, no dia a dia, ações de impacto nos mais diversos territórios , não suporta mais a configuração do legislativo e sua representação que tem uma só raça e gênero. Não é novidade que, ao longo da História, os lugares de representação têm sido ocupados por homens, brancos, héteros, cis e ricos, porque, o racismo estrutural fez com que mulheres negras, indígenas, quilombolas, lésbicas/bissexuais, trans e periféricas não se vissem nos espaços de poder. Tá na hora de promover mais diversidade!

A constante tentativa da elite patriarcal de subalternizar corpos de mulheres negras, por exemplo, não as impediu de serem agentes de transformação em seus territórios, participando ativamente de conselhos para o controle social e incidindo politicamente. Uma atuação que inclui outros papéis como ser mãe, trabalhadora e arrimo de família – resistindo todos os dias na guerra que é manter a própria sobrevivência, e a dos seus e suas. Os poderosos matam, encarceram e escravizam os nossos corpos há séculos. É preciso que emerjam nomes do povo para disputar espaços que sempre nos foram negados, e fazer o enfrentamento ao racismo, ao machismo, à lgbtfobia, intolerância religiosa e classismo. Tá na hora de trabalhar por igualdade!

Só com gente nossa, vamos poder contar com uma Câmara de Vereadores atuante no seu dever de fiscalizar a prefeitura, e legislar efetivamente para e pelo povo. A pandemia e o isolamento provocaram reflexões profundas sobre o lugar que ocupamos, e como queremos viver. O nosso olhar para dentro de nós mesmas(os) faz com que comecemos a ver o quanto precisamos fazer escolhas que transformem a nossa realidade, e de quem amamos. Trata-se de uma reparação história ao povo negro e indígena que constituem a maioria da população olindense, e que merece/precisa experimentar abundância.

É possível promover o reencantamento pela política. Mas só se o povo se ver representado. Precisamos ver a nossa cara, a nossa cor, ouvir a nossa voz por meio da voz de gente da “nossa quebrada”. É possível desenhar uma nova forma de fazer política, e garantir mais felicidade para quem mais precisa de motivos para sorrir, porque a vida já doeu demais. Essa felicidade também vem dos tambores e tá no nosso corpo ancestral, carregado da realeza que faz parte do mundo desde a sua criação. A música corre em nós, os tambores são a nossa voz, vibram nas nossas celebrações e nos trazem resistência e acalanto. E também convoca, chama para a luta. Tá na hora de travar mais uma batalha!

Desde o impeachment da primeira mulher eleita no país, a presidenta Dilma, estamos sofrendo um desmonte nas políticas públicas em todas as esferas, com o teto dos gastos e o enfraquecimento dos conselhos. Essa crise se agrava ainda mais com a entrada de uma família de milicianos no poder. O atual presidente da república é considerado como um dos piores gestores de todos os tempos, reproduz tudo que é de atraso e revela a pior face da
elite do atraso. Em Olinda, com o prefeito Lupércio não é diferente: é uma gestão sem planejamento, sem diálogo, que governa para poucos e que não evolui. Tá na hora de promover mudanças estruturais!

Por tudo isso, pelo direito à educação, à cultura, segurança pública, saúde, mais emprego e igualdade de oportunidade e por muito mais, compreendemos que o nosso corpo político e ancestral precisa ocupar os espaços onde o futuro da nossa cidade é decidido. Eu, Mãe Beth de Oxum, que faço política com encantamento do Beco da Macaíba para o mundo, me coloco à disposição de toda a comunidade olindense como pré-candidata às eleições 2020. Diz a lenda que Oxum chora porque ainda há no mundo muita “feiura”. Quando Oxum deixa de olhar seu espelho para olhar para o mundo dos homens, ela chora e chora. De seu choro, se faz uma cachoeira de amor e bondade que limpa a terra do que é feio e imperfeito que o homem nela produziu. Oxum se manifesta em amor puro!

Vamos mostrar que povo preto, de terreiro e periférico precisa ser protagonista de sua própria história. Vamos juntes fazer política com resistência, amor e encantamento. #TáNaHora

Saiba mais acessando:
http://www.maebethdeoxum.com.br

Captação e edição: Daniel Albuquerque
Edição: Tiago Delácio
Som: Léo Guedes
Produção: Obaegbe

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